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Antenor Pinheiro (Nonô) Um crimeieinse da gema

Atualizado: 11 de out. de 2022

Antenor José Pinheiro, o Nonô, veio ao mundo no Crimeia Leste. Como ele mesmo gosta de dizer: de parto normal, de parteira em uma bacia a cem metros do Córrego Botafogo, quando este ainda tinha águas limpas, na chácara da Julieta Pinheiro. Até aos 10 anos de idade, em 1969, Antenor, como qualquer criança, brincava, tomava banho no córrego, pescava, fazia panelas, cinzeiros e estátuas de argila que era farta na região . Contando a história da sua infância, Antenor já mostra a sua personalidade ao dizer que, enquanto brincava, em plena Ditadura Militar, o povo apanhava, era torturado e morto nas cadeias.

Antenor das peladas de futebol de várzea no Poeirinha do Crimeia Leste, do teatro, garoto propaganda, perito criminal, jornalista, especialista em trânsito, recebeu o Jornal Crimeia com simplicidade e uma comida gostosa no fogão caipira em sua casa, em junho de 2010, em plena Copa do Mundo. Na frente da SMT da prefeitura de Goiânia, na administração Pedro Wilson, denunciou a indústria dos “quebradores de multas” na sua gestão, e enfrentou a ira de diversas personalidades, entre elas, jornalistas conhecidos da capital.

Nesta reedição da entrevista, polêmico por não arredar o pé das suas convicções, Antenor, abre a alma e conta com detalhes sobre a sua história. A relação com tia-mãe Cici Pinheiro, a difícil convivência com seus pais biológicos, a fase teatral onde interpretava o personagem Goianinho, o garoto propaganda, perito criminal, programa Mesa de Bar na Rádio Universitária e fala de um Crimeia saudoso e gostoso de viver há um bom tempo atrás, ainda sem os arranha-céus e o trânsito que a cada dia que passa, fica mais tumultuado na região.

Carlos Pereira e Sinval Félix

Jornal Crimeia - Junho de 2010



A ORIGEM E A INFÂNCIA


Jornal Crimeia - Vamos começar esta história. Um crimeiense da gema, nascido no Criméia…

Antenor – Nascido no Criméia Leste.

Jornal Crimeia - Como você nasceu?

Antenor – Parto normal, em uma bacia a cem metros do Córrego Botafogo.

Jornal Crimeia – Quando o Córrego era limpo ainda?

Antenor – Limpo, a gente tinha o costume de tomar banho, pegar barro das bicas pra fazer panelas, cinzeiro, estátuas. O Córrego era limpo, a gente pescava, era muito bom.

Jornal Crimeia - Quando?

Antenor - Eu tinha uns 10 anos de idade, mais ou menos em 1969, 70, em plena Ditadura Militar. A gente tava brincando, pescando, fazendo cinzeiro de barro, enquanto o povo tava apanhando e morrendo nas cadeias por defender a democracia.

Jornal Crimeia - Você morava na Chácara da Julieta Rezende, a sua avó, mãe da Cici Pinheiro, grande teatróloga de Goiás e sua tia-mãe. Você era tratado como filho dela, mas na verdade era sobrinho. Como é esta história?

Antenor – Ela adotou todos os filhos da minha mãe biológica, Letinha, que era ruiva, modelo da Clip em São Paulo. Foi lá que ela conheceu o meu pai, retirante do nordeste. Eles se casaram em São Paulo e vieram para Goiânia. Fomos gerados aqui. Somos cinco irmãos. Eu sou o mais velho. Antenor, Zezé, Héber, Coiote e Ana Maria. Fomos criados por ela e pela vó Julieta.

Jornal Crimeia - Carlos - Quando era criança, na década de 70, morei na rua 2 na Nova Vila perto da chácara de vocês. Eu e meus amigos entrávamos lá pra pegar frutas e era uma correria com a gente.

Antenor- Era um povo bravo né. Os pinheiros tinham fama. O meu tio, tio Pinheiro que tem o mesmo nome meu, era um policial bravo. Então ele assustava a meninada que entrava na chácara. Até eu apanhava muito dele, porque eu também organizava os meus amigos para furtar frutas na chácara. Era uma coisa diferente. Era um desafio pra mim. Fomos crescendo ali, fazendo coleta de palha de arroz. Gostava muito de ir de carroça nas cerealistas no Norte Ferroviário.

Jornal Crimeia - Sinval – No Cascalho né.

Antenor – Exatamente, no Cascalho. A gente gostava de ficar trabalhando com palha de arroz. Em época de pecuária eu vigiava carro pra ganhar uns trocadinhos. Era tudo sem asfalto. Tinha o bar Finesse.

Jornal Crimeia - Sinval – Eu nasci em frente ao Bar Finesse.

Antenor - O meu pai, na rua 1 na Nova Vila, montou o bar Barra Limpa. Eu trabalhava lá também. Vendia bidu, laranjinha. O meu sonho era ir na rua 6, que hoje é a Avenida Central ou Fuad Rassi, lá no seu Esterlino. Tinha um armazém e ao lado uma sorveteria próximo a rua 10 ou 11. O meu sonho era ser promovido da caixa de isopor para o carrinho de picolé, pilotar um carrinho de picolé. Só que eu era muito pequeno, ainda sou franzino, a minha estatura não convencia (risos). Acho que ele pensava assim: “este rapaz vai é tombar este carrinho”. Mas aí no bar barra limpa, eu ajudei o meu pai a vender estas coisas. Era isso até os dez anos de idade. Foi quando comecei inclusive a fazer teatro. A minha tia Cici Pinheiro, ao nos adotar, aos seis, oito anos; ela nos iniciou no teatro. Fiz teatro dos 10 aos 18 anos. Desde pequeno eu tinha a minha remuneração, os cachês, então eu trabalho desde os dez anos de idade como ator de teatro.

O TEATRO, GAROTO PROPAGANDA, OS PAIS BIOLÓGICOS, O PERITO


Jornal Crimeia - Esta história de ator, do teatro. Como foi isto na sua vida? Como era o espetáculo do Goianinho? (Sinval lembra que assistiu duas vezes).

Antenor - A Cici Pinheiro criou se um personagem chamado Goianinho e ele tinha vivência teatral em várias situações. Em relação ao meio ambiente, ela criou a peça Goianinho visita a flora. Tinha O Goianinho vai ao dentista. Foram criadas mais ou menos umas dez versões do goianinho, e eu era o Goianinho. Aos 14 anos, pelo fato de ser ator, passei a fazer propaganda na TV Anhanguera para as lojas Moleque. (Antenor lembra: “ Moleque, o mundo encantado das crianças. Macacões Fittipaldi, só R$ 29,90”). Foi o meu primeiro contrato profissional. Eu trabalhei para as Lojas Avenida. O Tremendão, Magazine Central e a Moleque que era uma loja especializada em roupas para crianças. Com este dinheiro, eu comprei um lote lá no Jardim Balneário Meia Ponte. Era uma roça só. Então foi assim o meu primeiro investimento, fruto do meu próprio trabalho.

Jornal Crimeia - Porque você abandonou o teatro? Tem a ver com o Goianinho ter virado uma rotina em sua vida.

Antenor – Eu tinha passado em dois concursos públicos que me dariam boa remuneração. Esta época coincidiu com o oitavo ano de teatro. Sadi Cabral, um grande artista da Rede Globo na época, me assistiu em uma peça adulta chamada Do Outro Lado, que me levou a ganhar uma homenagem da Academia Feminina de Letras em razão da interpretação, era uma peça espírita, de autoria de Cici Pinheiro e Alice Capel. Sadi Cabral e Dina Sfat quiseram me levar para São Paulo. Aí eu disse, não vou não, acabei de passar em um concurso muito bom, vou ficar. A minha tia Cici não entendeu e me disse: “como é que pode trocar a oportunidade de uma carreira no teatro por um concurso público?". Eu via na condição de perito criminal, uma maneira de evoluir, em uma coisa que gostava, porque a perícia nada mais é do que uma reportagem técnico-científica que tem um alcance, uma abrangência na vida das pessoas. No teatro, eu não tinha certeza que eu conseguiria crescer, que seria bem sucedido em São Paulo. Eu ainda era muito desguarnecido emocionalmente em razão dos conflitos de pai e mãe, de sobrinho filho.

Jornal Crimeia - Estão vivos os seus país?

Antenor - Só o meu pai, mora na cidade de Nossa Senhora das Dores em Sergipe. A minha mãe biológica faleceu com 51 anos e ele voltou pra terra dele. Então eu optei pela carreira de perito porque talvez eu tenha tido até uma premonição, consegui enxergar um pouco adiante. Criei a Associação dos peritos, fui presidente. Pela minha atuação em 1987 fui eleito presidente nacional da associação dos peritos. Com esta minha atuação, eu consegui mobilizar os peritos criminais e médicos legistas do Brasil na defesa de uma tese, a de que esta função de perícia fosse diferenciada da ação de polícia. Este debate se tornou acadêmico e estratégico para o movimento nacional dos Direitos Humanos que entendia que quanto mais ciência se emprestasse nas investigação criminais, menos tortura, menos improvisação, menos arbitrariedade nós teríamos nos processos. Esta tese me rendeu uma projeção internacional. Passei a dar aulas no Ministério Público Federal em Cuba, No México onde eu sou professor convidado da Universidade autônoma de Toluca. Em Costa Rica até hoje sou professor da Procuradoria Geral de Justiça. Em Honduras, professor sênior. Na Argentina ministrei cursos na Faculdade Federal de Rosário em Buenos Aires. Em Cuba eu tive o privilégio de ser um dos três peritos brasileiros convidados oficialmente pelo Partido Comunista a acompanhar o enterro de Che Guevara. Então eu construí uma carreira. O meu trabalho como perito criminal no Estado de Goiás é respeitadíssimo, por isso eu sou perito judicial também. Sou perito de juiz, de paz, que é da parte pública e é a minha profissão.

A TIA-MÃE CICI PINHEIRO, O TEATRO E O FUTEBOL NO CRIMEIA



Jornal Crimeia - A Cici Pinheiro, grande teatróloga de Goiás, o que ela representou pra você?

Antenor – Uma referência de vida, intelectual, de dedicação, de luta, de inteligência, uma referência inclusive corporal. Todos os meus gestos hoje, decorrem da experiência que tive no teatro. Ela foi a minha fundamental referência de vida. O senso crítico, a rispidez nos embates, a honestidade com a coisa pública, sempre foi uma pessoa muito rigorosa. Eu ressentia muito, porque ela era muito rigorosa, principalmente comigo que era o filho mais velho. Eu devo muito a ela. Até porque foi ela que me desviou de um rumo que talvez eu não seria bem sucedido. Eu era jogador de futebol do infanto-juvenil do Atlético sem a permissão dela e, em uma tarde que matei aula pra treinar, ela soube e me flagrou lá no Antônio Accioly, foi de vara verde, me pegou no meio do campo, tava o Baltazar, o Haroldinho, o Éber grande Crac. Eu jogava com estes três grandes craques. Aí ela me deu uma surra no meio do campo do Atlético e eu nunca mais voltei. Aí joguei só nos campos do Criméia, no poeirinha. Aliás o Éber que jogou também no Grêmio, o Haroldinho e o Baltazar o Artilheiro de Deus devem muito de suas carreiras por este que vos fala (muitas gargalhadas), eu era o ponta de lança deles (pausa para histórias de futebol de várzea-mais risos).


A PERSISTÊNCIA, O PAI BIOLÓGICO, O PERITO

Jornal Crimeia - Carlos – Antenor, estava conversando com o Hebinho, seu irmão, ele me falou da sua persistência, a sua vontade de estudar, desde pequeno, como foi isto na sua vida, o estudo?

Antenor - Eu fui o único filho que resolveu descobrir o meu pai e minha mãe. Eu saí da chácara com 17 anos. Por isso a minha tia Cici, aliás eu fui o único também que chamava ela de tia, em obediência ao sentido biológico da vida, entendia que ela tinha que ser chamada de tia. Os meus irmãos a chamavam de mãe. Ela nunca me perdoou, porque eu saí com 17 anos e fui atrás dos meus pais, eles eram alcoólatras, tinham graves problemas. Alugaram uma casa e foram morar em um barracão depois da Vila Alvorada. Eu pensei: eu vou descobrir os meus pais, eu quero ter esta experiência de morar com pai e mãe. Então, saí da chácara e fui viver em um barracão alugado. Estudava no Colégio Sena Aires. Eu saia da Vila Alvorada, o ônibus parava na Praça Cívica e ia a pé até o Sena Aires. Fazia o segundo grau. Voltava a pé para a Praça Cívica. O meu pai era fiscal da HP e eu tinha o passe livre e podia entrar pela porta da frente. Me lembro que tinha um motorista que era muito implicado comigo. Às vezes quando ele me via não deixava eu entrar pela porta da frente, aí eu tinha que pegar outro ônibus.Chegava em casa a uma hora da manhã. Consegui levar os meus pais pra casa deles e depois, voltei a morar com a minha tia Cici Pinheiro e a vovó Julieta lá na chácara. Foi quando eu fiz dezoito anos e prestei dois concursos, o da Caixa Econômica Federal em Brasília e para perito criminal na Secretaria de Segurança Pública. Passei nos dois, na caixa em quinto e como perito em quarto. Aí eu percebi que como perito eu não precisava viajar. Assumi aos dezoito anos o cargo de perito criminal e fui isto até aposentar no ano passado com 31 anos de trabalho.

Jornal Crimeia - Como é o trabalho do perito criminal?

Antenor - .Ele produz provas para os processos criminais. Ele vai ao local de um homicídio, suicídio, acidente ou crime de trânsito, arrombamento, enfim, ele coleta os vestígios, interpreta e oferece uma opinião técnica pra que isto seja considerado como uma prova técnica para os autos criminais, para que o juiz tenha mais segurança no julgamento.


O JORNALISMO, A DITADURA, A CENSURA, O PROGRAMA MESA DE BAR


Jornal Crimeia - Durante todo este tempo de perito criminal você acabou se envolvendo com jornalismo. Você criou, na Rádio Universitária, um programa que gerou muita polêmica e teve muito sucesso, o Mesa de Bar. Como foi esta história sua no jornalismo e qual a importância do Mesa de Bar nesta história.

Antenor – A minha primeira experiência universitária foi com o vestibular de direito, influenciado pela tia Cici. Nós tínhamos dois tios extraordinários advogados. O Eco e o Wilson Pinheiro, que era juiz de direito, era UDN e foi muito perseguido pelo Pedro Ludovico, inclusive chegou a levar oito tiros e descarregar 16 tiros, o dobro, nas carcaças dos Olímpio Jayme da vida, era uma guerra que existia. A família Pinheiro era muito brava. Em função da vida profissional dos meus tios, eu recebi forte influência porque eles perceberam que eu tinha uma boa oratória, que eu era perspicaz, esperto, um menino diferente e poderia ser um bom advogado. Eu fiz o vestibular e tomei bomba, mas eu não queria isso. Eu já começava a me incomodar com as coisas que eu enxergava. lia nos jornais um negócio de ditadura. Quando Carlos Marighella morreu eu lembro direitinho como foi a manchete do Jornal O Popular: “O Terrorista número 1 finalmente foi assassinado”. Então eu olhava aquilo, comecei a conversar com as pessoas do cursinho e resolvi fazer jornalismo. Eram 25 por vaga. Um repórter da TV Goya me abordou na rua e me perguntou se eu estava entusiasmado. Eu disse: eu tô preocupado com os meus concorrentes porque são cinqüenta vagas só que uma já é minha”, e eu passei em oitavo lugar para jornalismo na Universidade Federal de Goiás, tava muito seguro do que eu queria. Comecei a estudar em 1979, na época da abertura política com 19 pra 20 anos. Então eu comecei a compreender o mundo a partir do jornalismo na universidade. Como a minha família era muito conservadora, udenista, inclusive Cici Pinheiro, que era uma mulher contraditória, ao mesmo tempo que era conservadora, ideológica, ela era revolucionária na arte.

Jornal Crimeia - Inclusive tem uma história do primeiro beijo em cena aqui em Goiás entre ela e o João Bênio. Como foi isto?

Antenor – Ela deu o primeiro beijo em uma cena com o João Bênio no Teatro. Este beijo teve uma grande repercussão. Uma foto dele, do beijo, foi levada para a televisão em tom de crítica, de censura. Neste momento, perseguida em função do beijo, a tia Cici voltou para São Paulo. Depois ela retornou para continuar a carreira dela…Ela fez a primeira novela na TV em Goiás, ao vivo, a Família Brodie.

Jornal Crimeia - E o Mesa de bar como foi esta experiência?

Antenor – Fazendo jornalismo em 1980, eu fiquei muito inquieto, fui fazer um estágio na Rádio Universitária, como locutor. Aí pensei, mas eu posso fazer uma coisa melhor, posso entrevistar pessoas. Então criamos um programa chamado Mesa de Bar. Era uma mesa no estúdio onde eu convidava pessoas da comunidade para discutir assuntos diversos, como se fosse em uma mesa de bar mesmo. Isto foi criando profundidade, pessoas que não tinham voz nas emissoras convencionais, passaram a ter voz na Rádio Universitária. As associações de bairros começaram a colocar auto-falantes nas suas sedes, na Vila Coronel Cosme, Vila Redenção, entre outras. Os presidentes de associações começaram a enxergar no programa um espaço para discutir o bairro. O hoje vereador Maurício Beraldo, outros sindicalistas começaram a procurar e ocupar este espaço, porque era o único que tinha para discutir assuntos da comunidade, de reivindicar. Aí eu resolvi criar um quadro: “a história que não nos contaram”. Era uma forma didática de discutir episódios da história do Brasil e de Goiás que não chegavam às camadas mais pobres da população. Comecei a discutir e a fazer programas sobre Delmiro Gouveia, aquele empresário revolucionário de Alagoas, a Guerra de Canudos, Lampião...

Jornal Crimeia - Trombas...

Antenor – Não cheguei a Trombas, quando fiz um o programa sobre a Guerrilha do Araguaia teve um grande problema. Trombas seria o próximo. Um texto até pueril, simplório, eu peguei a literatura disponível, restrita e falei sobre a Guerrilha do Araguaia. Aí o Dentel, que era o órgão de controle do Ministério das Comunicações, fechou a Rádio Universitária. O Pró-reitor de extensão, Joel Ulhôa, reuniu o pessoal de jornalismo, Joãomar Carvalho, Venerando Ribeiro, Mota, Marcolina, e diante daquela convulsão resolveram me mandar pro Projeto Rondon em Picos no Piauí, fiquei um mês lá e perdi um semestre por causa desta história, tive que trancar a matrícula. Em Picos, no Campus da UFG, consegui um espaço na rádio local. Lá tinha um bispo muito progressista chamado Don Augusto, ligado à teologia da libertação e ele cedeu este espaço da igreja na rádio para que eu pudesse debater os problemas locais e então eu acabei criando um outro mesa de bar na Rádio de Picos em Piauí onde até hoje tenho grande amigos. Aí veio outro problema, quase que a Rádio de lá fecha também (risos). Terminei o Projeto Rondon, voltei para Goiânia, depois de seis meses, eu retomei o projeto do Mesa de Bar, onde nós continuamos a debater a cidade, a conhecer as lideranças de associações de bairro, Ronie Barbosa, Maurício Beraldo, inclusive o Mesa de Bar passou a ser um laboratório do curso de jornalismo. Na época participavam como estagiários o hoje professor e Diretor da Rádio Universitária Luiz Signates, que inclusive teve o seu emprego na Rádio no meu lugar. Foi oferecido a mim um contrato, como eu já era perito criminal e o Luíz estava começando na vida, com muita dificuldades, eu cedi a vaga pra ele. O jornalista Armando Araújo também estagiou no Mesa de Bar; o escritor Itamar Pires; Eliane Pereira, hoje assessora de comunicação da PUC Goiás; Erivelton Nunes, Assessor de Comunicação da Celg; Edmilson dos Santos da Rádio Fogaréu da Cidade de Goiás, Odilon Camargo um grande locutor e teatrólogo, uma voz extraordinária, também foram estagiários no Mesa de Bar, enfim, muita gente importante hoje e que continua militando no jornalismo. Foi uma coisa muito rica o Mesa de Bar e esta experiência disseminou nas outras rádios, inclusive o Mesa de Bar foi eleito o melhor programa de radiojornalismo de 1982.

Jornal Crimeia - Carlos - E a audiência dele, eu me lembro que era muito boa, mesmo sendo na Rádio Universitária, uma rádio não comercial.

Antenor – O programa era feito ao vivo no sábado e mesmo com todas as limitações técnicas, era campeão de audiência no horário das 2 às 6 da tarde no segmento AM. Nesta época eu também criei o Lá na Roça, o primeiro programa de Goiás a discutir e debater a música sertaneja e música caipira, ia ao ar das 6 às 7 da noite, antes da Voz do Brasil. No programa deixávamos claro a diferença entre música caipira e sertaneja. Tem uma coisa muito importante na Rádio Universitária, na época ela se popularizou em função do programa Mesa de Bar, por que? Porque era pecado, heresia, colocar músicas populares, de apelo popular, tipo Amado Batista, Gilliard. O que eu fiz, pelo fato de a Rádio Universitária, no dial, ser vizinha da RBC e da rádio clube, que eram poderosas na época, eu procurei trazer este público para a Rádio Universitária, pois achava que só assim este público participaria dos debates do Mesa de Bar e deu certo. Ou seja comecei a colocar músicas bregas na programação para que este público participasse também dos debates na Rádio. Geralmente eram pessoas de periferia, sem muita informação, tinham pouco acesso aos meios de comunicação e, em vez de ficarem ouvindo estas músicas na RBC, passaram a ouvir estas mesmas músicas na Rádio Universitária no Programa Mesa de Bar, só que entre uma música e outra, ela também tinha acesso a informação, ao debate sobre a comunidade dela, uma mensagem, uma conscientização política. Fui muito combatido por causa desta estratégia. Tentaram por tudo acabar com o Mesa de Bar na época porque a gente estava de certa forma atropelando a tradição da Rádio Universitária que era música clássica, muito bonita, mas, na época, só atendia ao pessoal da reitoria. O Olavo Tormin, foi um dos críticos ao Mesa de Bar. Eu disse a ele, Olavo fica com a sua música clássica que tem o seu valor e eu fico com o meu brega aqui porque a música brega também o seu valor e porque entre uma música e outra a gente pode atrair um grande público para a rádio. Então foi uma estratégia que deu certo na época. Resultado: o Mesa de Bar foi eleito o melhor programa de Rádio em 1982 pelo Jornal o Diário da Manhã, que na época estava implantando implantando um projeto maravilhoso, liderado pelo Washington Novaes, Vilmar Alves, Marco Antônio Coelho, Reinaldo Jardim (fala do bar em sua casa em homenagem a Vilmar Alves e dá um tempo para novas lembranças).

DEPOIMENTO FINAL - LEMBRANÇAS DO CRIMEIA


Antenor - Eu quero falar e reivindicar que se publique. O Crimeia Leste é uma grande emoção pra mim. Foi no Crimeia que nasci, cresci e me criei. Foi ali que interagi na minha infância. Foi no Crimeia que tive a minha primeira namorada, a minha segunda, o meu primeiro beijo na boca na avenida perimetral, 211. Foi no Crimeia que frequentei os ranchões como penetra nas festas. Boca de sino, fivela, salto alto, aqueles sapatos plataformas, a poeira, clube Jaó, Bar do Pedrinho, campo do poeirinha, o campinho em frente a nossa casa na chácara da Julieta. Foi no Crimeia que me enxerguei como pessoa, como gente. Foi no Crimeia que interagi com todos, com as pessoas mais humildes, mesmo pertencendo a uma família tradicional de Goiânia, que conheci e convivi com jovens de ideais revolucionários, idealistas que contribuíram para o meu crescimento pessoal. Então falar do Crimeia, por meio deste jornal, é me sentir transportado para um passado de muita felicidade e muita alegria. E é por isto que fiz questão que vocês viessem em minha casa, porque jpa nem mora mais em Goiânia, pra poder falar um pouco desta parte da minha vida tão rica, bela, fértil. Não fosse o Crimeia, não seria o que sou hoje: um homem bem sucedido, pai de seis filhos, cinco mulheres e um homem. Um homem que tem nos filhos, a sua extensão. Um homem que ama a poesia, a música, gosta de ver, e gota de, sobretudo, receber as pessoas de bem, pessoas amigas, porque na minha casa só entra gente que eu gosto ou então tenho certeza que são pessoas humanistas e comprometidas com o ser humano. Então para mim é…assim…uma viagem, que é um prêmio recebê-los aqui e poder falar por meio deste veículo para todos os meus conterrâneos do Crimeia Leste. É isto.

Na entrevista completa foi suprimida a parte sobre trânsito, quando Antenor foi superintendente da SMT na gestão do prefeito Pedro Wilson em Goiânia. Na época, foi uma gestão bastante polêmica porque Antenor combateu a chamada indústria da “quebra de multas” onde enfrentou diversas personalidades, inclusive jornalistas que se beneficiavam do esquema. Falou também sobre o crescimento desordenado do Crimeia que, de acordo com ela, caminharia para um trânsito cada vez mais tumultuado devido à política de se privilegiar o automóvel e os grandes imóveis em detrimento das pessoas.

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Apresentação:



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