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O HOMEM QUE ASSSUSTAVA


Estamos muitos felizes com a boa repercussão da reativação da TV Crimeia, criada inicialmente em 2021 para hospedar o documentário O Voo do Juriti. Dentro do quadro proposto nesta volta, vamos dar destaque, inicialmente, para as Crônicas do Crimeia publicadas entre 2010 e 2018.


Neste segundo post, vamos destacar a crônica "O Homem que Assustava", publicada pelo jornalista crimeiense Ricardo Edilberto na edição 44 do jornal em abril de 2011.





O Homem que Assustava é seu Pedro pai da Divina, casada com o Divino, tios do Claudio Eias que, junto com o Ricardo, criaram o Festival Juriti.


Seu Pedro era um senhor baixinho, uma figura doce, mas que adorava dar susto nas pessoas em uma época lúdica onde não havia tanta violência.


Ele ficava escondido detrás das árvores, chegava sorrateiramente com sua enxada e...vrarrrrrrr...o susto tava dado, e após, todo mundo, inclusive o assustado, ria da cena, dava aquela gargalhada.

Costumava amarrar também uma linha em uma falsa cobra pra assustar os desprevenidos que passavam na rua de terra e mato em frente a sua casa em um tempo nostálgico do Crimeia Leste.


Boa leitura.



O HOMEM QUE ASSSUSTAVA


Ricardo Edilberto


Penso que era assim: contava ainda poucos anos de vida quando retornei ao Crimeia. Nasci aqui, mas minha família mudou logo depois pra Nova Vila. Ao voltarmos, tinha eu pouco mais que os dedos da palma de uma mão de idade. Mas era o suficiente pra guardar na memória aquele ar poeirento, que de tanto respirar deixavam enrigecidos os cabelos do nariz. Acompanhei todo o processo do sumiço dessa poeira, a terra sendo escavada, as manilhas gigantes onde brincava antes de serem enterradas, as enxurradas nas quais adorava correr em cima chapinhando o pé na lama, o piche encapando as ruas, cobrindo as cenas de um antigo Crimeia e pavimentando seu novo caminho.


Cresci vendo a Algusto Paranhos, rua onde morava, sofrer essa mudança. E nessa mesma rua tinha um homenzinho que também acompanhou todos esses acontecimentos. Ele ficava ali, sentado no banco de madeira embaixo do pé de guatambu, como quem não quer nada, aguardando as vítimas desavizadas para aprontar suas peripécias. Às vezes, eu ficava observando, esperando pra ver o momento em que ele dava o bote. Certa vez, duas mulheres passavam pela rua, tagarelando sobre sei lá o quê. Entretidas que só, eram prezas fáceis para Seu Pedro. Ele chegava por trás e "au au au au", latia como um desses cachorrinhos chatos que adoram morder calcanhares. E eu, no meu cantinho, rindo à bessa.

Pai da Divina e sogro do Divino, Seu Pedro tinha uma alegria maravilhosa. Adorava tocar uma sanfona que soava algo nada parecido com música, mas fazia isso com tamanha expressão de felicidade que dava gosto de ver. Recitava um cordelzinho, alguma coisa que rimava com gia e outras poesias, nos deixando encabulados com seu pouco estudo e grande sabedoria. É desses personagens de infância que, vez por outra, saltam em nossa mente inspirando bons pensamentos. Desses que todos nós temos. Basta dar um tempinho nas preocupações e deixá-los aparecer. 


O Crimeia tem muitas recordações. Mande as suas, que contaremos aqui: ricardocrimeia@gmail.com






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