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Foto do escritorDébora Resendes

Vestido de Noiva - Nelson Rodrigues

Atualizado: 11 de out. de 2022

Semana passada no post sobre a origem do teatro citamos que Nelson Rodrigues, foi o precursor do teatro moderno no Brasil com a peça vestido de noiva escrita em 1943.

Data da foto: 1943 Evangelina Guinle, conhecida como Lina Grey, Stella Perry e Maria Barreto Leite, em cena da peça "Vestido de Noiva", com texto de Nelson Rodrigues, e direção de Ziembinski. 

Hoje vamos falar um pouco mais sobre essa obra, que é a segunda peça escrita pelo autor e se tornou um marco na historia da dramaturgia nacional, que incorpora as mais notórias conquistas da modernidade cênica e o encontro do texto de Nelson Rodrigues com a direção excepcional de Ziembinski. O texto é retomado por Sergio Cardoso em 1958, numa nova montagem também histórica.


A peça se passa em três planos que se intercalam: o plano da alucinação, o plano da realidade e o plano da memória. Nela acompanhamos os conflitos de Alaíde e a relação com sua irmã, perpassada pela paixão por um mesmo homem. Se as tramas propostas são imbricadas, o texto é fluido, fácil de ler e de mergulharmos nestas relações.


A grande tensão que permeia a peça não se mostra apenas no antagonismo entre Alaíde e Lúcia, mas nas relações conflitantes entre todos os personagens. Nas cenas, a angústia da culpa supera sempre os tons de ternura amorosa com que geralmente são apresentados os laços familiares. As relações de desejo são também relações de ódio.

1976 : Camilla Amado (Alaíde) e Norma Bengell (Madame Clessi) em nova montagem dirigida por Ziembinski (Foto: Chico Nelson)

A partir do acidente de que é vítima, "a protagonista Alaíde, em estado de choque, reconstitui os acontecimentos marcantes de seu passado próximo e se entrega às fantasias do subconsciente, encontrando-se no território do imaginário com Madame Clessi, a mundana de existência aventurosa, com quem se identifica e se compensa do cotidiano insatisfatório. A matéria primordial de Vestido de Noiva é, assim, a projeção exterior da mente de Alaíde", conforme grifa Sábato Magaldi (1927).


O enredo é bastante simples: duas irmãs lutam entre si pela posse de um homem, ele que, casando-se com uma delas, não deixa de cortejar a outra. A morte de Alaíde - sem que fique esclarecido se acidental ou provocada - estende um manto de mistério sobre este triângulo de criaturas, marcado pelos confrontos, a inveja e o rancor. Nem o casamento com o viúvo livra Lúcia, a irmã, da infelicidade.


Um prodigioso plano de luz, criado pelo diretor Ziembinski, incumbe-se de fornecer os climas soturnos solicitados pelos ambientes e viabiliza a necessária agilidade para a passagem de um plano a outro, através de cortes bruscos, soluções técnicas consideradas de fundamental importância para o fluxo da peça.


Estreada em 28 de dezembro de 1943. A montagem eleva o grupo amador Os Comediantes à condição de criar o primeiro espetáculo efetivamente moderno do nosso teatro. Em 1958 a mesma peça conhece, num espetáculo conduzido por Sergio Cardoso para sua companhia, uma surpreendente retomada, agora em São Paulo.



O encenador, influenciado pela estética despojada do Théatre National Populaire (TNP), comandado por Jean Villar, idealiza uma cenografia em três planos abstratos, interligados entre si e recortados por uma linha de luz que brota do chão. Tudo o que havia de expressionista na encenação anterior é aqui depurado, resolvido em chave quase realista, onde os atores entram e saem de cena carregando móveis e objetos. Os efeitos trágicos ou as expressões grotescas são reservados para os momentos culminantes do enredo, o que inspira aos diálogos uma densidade muito mais corrosiva e sórdida.


A peça configura uma crítica cáustica a determinada classe da sociedade. Tal como ressalta o crítico Ronaldo Lima Lins: “Vestido de Noiva movimenta seu drama dentro de um círculo fechado.

Ali está uma peça cujos problemas se passam no nível da pequena burguesia, que a aplaudiu e lhe deu notoriedade”. Nessa maneira velada de ação, está o êxito do teatro de Nelson Rodrigues: agradar a sua plateia, ao mesmo tempo em que a insulta.


Se você ficou curioso (a) para conhecer mais desse enredo intrigante assista o Filme dirigido por Antunes Filho, exibido na Tv Cultura em 1974 , dentro do programa "Teatro Dois", no formato de teledramaturgia, ou teleteatro. Com atuações de Lílian Lemmertz, Nathália Timberg e Edwin Luisi.


A editora Nova Fronteira publicou recentemente uma nova edição do texto, também vale muito a pena conferir.



Fontes de Pesquisa

VESTIDO de Noiva. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento399276/vestido-de-noiva. Acesso em: 10 de agosto de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7


“Vestido de Noiva” – análise da obra de Nelson Rodrigues_ por: Marcílio Bittencourt Gomes Jr., Professor da Oficina do Estudante – Campinas (SP) Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/vestido-de-noiva-analise-da-obra-de-nelson-rodrigues/

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Apresentação:









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